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Covid-19: “Temos que compreender o paciente e os familiares, mas as pessoas não compreendem a nossa situação que está cada dia mais difícil e desgastante”, lamenta enfermeira do HCSR

Covid-19: “Temos que compreender o paciente e os familiares, mas as pessoas não compreendem a nossa situação que está cada dia mais difícil e desgastante”, lamenta enfermeira do HCSR
GABRIELA RECCO

A enfermeira Alini Guollo trabalha há 13 anos no Hospital de Caridade São Roque, em Morro da Fumaça. Desde o início da pandemia ela atua na linha de frente, e, também, foi escolhida pelo Morro da Fumaça Notícias para contar como sua vida mudou neste um ano depois da chegada da Covid-19. Alini é enfermeira pós-graduada em Cardiologia e Hemodinâmica e conta que nunca viveu uma experiência como essa.

“De início ficamos apreensivos, pois era uma doença nova, sem muito conhecimento sobre ela, porém, ao passar dos meses nos deparamos com uma doença cruel e agressiva, nada parecida com as que habitualmente trabalhamos. Desde então, nossas vidas e rotinas mudaram totalmente e o desgaste emocional e físico foi o que mais nos derrubou e vem nos afetando atualmente”, relata Alini.

Ela conta que as dificuldades são diárias e de todos os tipos e tamanhos, como, por exemplo a falta de leitos UTI. “Porém, contamos com a colaboração de todos os profissionais e isso é motivador para nós. Atualmente os insumos e medicamentos estão sendo a nossa maior dificuldade. Os distribuidores não estão conseguindo suprir a demanda, que cada dia vem aumentando, além dos valores absurdos. Sem deixar de salientar os profissionais da saúde que estão escassos e exaustos”, explica a enfermeira.

Realidade diferente

A realidade atualmente é diferente de um ano atrás, quando a pandemia chegava ao Brasil. “Há um ano estávamos preparados, armados e prontos para o combate e para vencer. Tanto que conseguimos chegar até aqui. Só que hoje estamos cansados para o combate. Há um ano acreditávamos que isso não se estenderia na proporção que hoje encontramos. Cada dia mais vem aumentando o número de casos e a gravidade da doença, falta de insumos e profissionais qualificados”, lamenta.

Alini precisou se afastar dos pais com quem ela mora. “Por um ano eu vivi longe de todos os meus familiares, meus pais que são do grupo de risco, optei por me afastar. Eles estavam morando no sítio da família, eu vivi sozinha, perdi as contas das vezes que fui dormir chorando de saudade e de angústia por tê-los longe. Quantas vezes em almoços de família almocei longe de todos para cuidar e zelar pela saúde deles. No hospital, sempre falamos que somos uma família e essa família posso dizer que sempre se manteve unida e que nos momentos de desespero estivemos fortes por estarmos todos juntos”, pontua.

Desvalorização e descaso com a profissão

A maior frustação para a enfermeira é a desvalorização e o descaso com os profissionais de saúde que estão na linha de frente. “Muitos colegas trabalhando jornada de trabalho de 24 horas, deixando família e casa para cuidar e salvar vidas, e ainda assim somos muitas vezes agredidos pela sociedade. Nós temos que compreender o paciente e os familiares, mas as pessoas não compreendem a nossa situação que está cada dia mais difícil e desgastante. Se todos parassem para pensar, e se os profissionais da saúde parassem? Muitos mais morreriam! Essa é minha maior frustação”, desabafa Alini.

Em meio a este caos nos cuidados com a saúde e vivendo o dia a dia de um hospital, Alini deixa a sua mensagem para este momento delicado que ainda vivemos. “Fique em casa, use álcool em gel, higienize suas mãos, respeite o isolamento social, cuidem-se. Não só por você, mas pelo próximo, vamos ser mais humanos. Orem por nós profissionais da saúde, pois precisamos do apoio de todos”, finaliza.

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