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Morro da Fumaça 57 anos: “De sapateiro a comerciante. Uma história que já dura décadas”

Morro da Fumaça 57 anos: “De sapateiro a comerciante. Uma história que já dura décadas”
GABRIELA RECCO

Você já imaginou pegar um ônibus (que passava apenas três vezes por semana) para sair de Morro da Fumaça para ir a Criciúma comprar matéria prima para fazer sapatos? Assim começa a história empreendedora de Alberto Eugênio Espíndola, o “Berto”, hoje com 77 anos de idade, o segundo sapateiro que a cidade teve.

Nascido em Morro da Fumaça, a experiência com a sapataria veio depois de morar com os pais por um ano em Araranguá. Logo surgiu uma fábrica de calçados, e a oportunidade de ser empregado. “Quando voltei para Morro da Fumaça fui trabalhar de sapateiro na loja do João Salviatto. Na época tinha 15, 16 anos. Em 1958 comecei eu mesmo a fabricar e consertar sapatos”, relembra.

Ele lembra das dificuldades que encontrava para a fabricação. “A gente saía daqui, ia para o ‘Silvino Dal Bó’, onde se comprava de tudo para fazer sapatos. Era a sola, a cola, o couro, o prego, o torno, a linha. Tudo era comprado lá. Tinha três ônibus por semana, e se chovesse não passava pelas estradas. Era assim, ou tinha o caminhão do seu Mário Simon, que carregava areia e dava carona”, lembra.

O então sapateiro recebia encomendas de homens e mulheres, mas admite que tudo era fabricado de forma meio grosseira. “Era mais sapatão fechado, botina para eles. E para elas, era só sandália. Lembro também de um senhor que tinha um defeito no pé e fez uma encomenda. Depois de duas, três tentativas, consegui fazer o sapato como ele queria. Foram três dias para fazer esse sapato”, coloca Espindola.

Alberto conta que se uma agulha da máquina quebrasse e não tivesse reserva, ficava dois, três dias esperando para ir comprar. Além de Criciúma, toda matéria prima era encontrada em Tubarão e, claro, Laguna, que era o maior centro comercial em virtude do porto.

As vendas e a Festa de São Roque

Poucos anos depois ele parou de fabricar sapatos. Em 1968 abriu a Loja Marisol Calçados, na Rua 20 de Maio. “A melhor época de vendas era o mês de agosto, por causa da Festa de São Roque. Vinha o pai, a mãe, os filhos todos comprar um par de sapato. Alguns pagavam em dinheiro, mas para a maioria o pagamento era para a safra da agricultura”, conta.

Naquele tempo, a economia era impulsionada pelo primeiro prefeito eleito pelo voto direto de Morro da Fumaça e primeiro presidente da a época Cooperativa de Eletrificação Rural de Morro da Fumaça Limitada (Cermoful). Jorge Silva deixou marcas de desenvolvimento. “O Jorge Silva foi um monstro. Não tinha nada aqui dentro, e com ele veio a energia, vieram as estradas que ligaram à região”, coloca entusiasmado.

A década de 1970 alavancou os negócios na cidade. “Todo mundo ganhava dinheiro com o auge do tijolo. Foi quando a cidade deu uma arrancada na indústria e no comércio”, acrescenta.

A diferença ao longo tempo

Só pelo fato de se levar quase uma semana para comprar a sola, a comercialização de sapatos já seria diferente para os tempos atuais. “Hoje tudo é mais fácil. Com um clique tu faz o negócio”.

Hoje em dia são duas lojas: além da Rua 20 de Maio e na Rua Inocente Pagnan. “A loja é do mesmo jeitinho. A distribuição das prateleiras. Não posso parar uma coisa que deu certo. Mesmo os filhos trabalhando, quem tem o controle de tudo ainda sou eu”, explica.

A concorrência é o principal dilema para o futuro. Mas o segredo de manter as portas abertas há mais de seis décadas é simples. “O segredo é a perseverança, confiança e coragem”, pontua Berto.

O futuro

O comerciante acredita que para impulsionar novamente o desenvolvimento a cidade precisaria atrair indústrias para gerar emprego e renda. “Perdemos muitas empresas de famílias tradicionais para outras cidades. Mas ainda vejo uma luz no fim de túnel com relação ao futuro de Morro da Fumaça. Hoje a cidade depende das fábricas de confecções de roupas. Se parar essas facções que dão emprego, não tem como se manter”, admite.

No auge da experiência dos seus 77 anos, Berto vislumbra uma área industrial bem localizada e mais centralizada. “Que todos os políticos se unam para fazer alguma coisa”.

Orgulho de ser fumacense

No dia dos 57 anos de emancipação político/administrativa de Morro da Fumaça, celebrada hoje, dia 20 de maio, Alberto Eugênio Espíndola comemora com alegria. “Meus parabéns para a cidade. Só quem mora em Morro da Fumaça sabe o que é viver nessa terra. É uma colônia de gente boa, de alma e coração”, expressa emocionado.

“Tenho orgulho de ser fumacense e fazer parte desta cidade. Me emociono só de falar nisso. Espero que essa juventude saiba empreender daqui em diante. Morro da Fumaça não para. É um lugar abençoado por Deus”, finaliza.

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