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Dia da Mulher: Superação e trabalho marcam a trajetória de Ninha Rosso Zanevan

Dia da Mulher: Superação e trabalho marcam a trajetória de Ninha Rosso Zanevan
Gabriela Recco

A trajetória profissional da empresária, Ivani Rosso Zanevan, a Ninha, pode ser compreendida pelo sucesso que hoje tem a frente de uma das empresas de confecções mais bem sucedidas em Morro da Fumaça, a loja Roluza. Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ela representa as mulheres nas lutas diárias pelo reconhecimento e igualdade, trazendo uma reflexão sobre o empoderamento feminino. Ninha nasceu para empreender na cidade e sua história inspira outras mulheres.

A Roluza hoje é referência na região sul do estado no comércio varejista de artigos do vestuário, acessórios cama, mesa e banho, brinquedos, cosméticos, bijuterias, tapeçaria, persianas, cortinas entre tantos outros dos mais de dez mil itens disponíveis nas duas lojas. “Hoje temos a matriz no Distrito de Estação Cocal e uma filial as margens da BR-101, na Esplanada, em Içara. São quase 40 colaboradores que contribuem com o atendimento da Roluza. E a terceira loja já está nos nossos planos”, destaca a sócia-proprietária.

Infância e juventude

Primogênita do casal, Elias Rosso e Lenir Casagrande Rosso, Ninha cresceu na comunidade de Mina Fluorita, no Distrito de Estação Cocal. Em suas primeiras falas na entrevista exclusiva ao Morro da Fumaça Notícias, já demonstrou sua veia empreendedora e corajosa em vendas e atendimento ao público, no respeito a equipe de trabalho e, principalmente, no amor pela sua família. “Deus, família e trabalho. Esses são os três valores que me guiam. Deus para mim é o centro de tudo, é o princípio, meio e fim. Minha família é meu bem maior na vida. E o meu trabalho me completa”, pontua.

Mas, o que muitos não imaginam é que para chegar até aqui e se consolidar no mercado do vestuário, Ninha enfrentou muitos desafios doloridos. De pequena já ouvia o pai dizer que mulher não era para estudar, era para ficar em casa e cuidar das tarefas domésticas. E foi ainda criança que ela parou os estudos na quarta série para ajudar a mãe num armazém na comunidade onde moravam.

“A mãe tinha um armazém, um bar e uma cancha de bocha para cuidar. Levantava de madrugada para fazer comida e ia até tarde da noite e eu ali, sempre ajudando ela. Era muito movimentado até porque na época tinha três minas de fluorita em funcionamento, então era em torno de 200 almoços por dia. Nos finais de semana tinha jogos no campo de futebol ao lado, e continuava servindo almoço. O pai tinha uma olaria na Vila Rica, tinha caminhão e um táxi. E no meio disso tudo eu fui crescendo”, relembra Ninha, hoje aos 55 anos de idade.

No ano de 2000, Ninha com seu espírito arrojado inaugurou o Cabana Lanches e fez o maior sucesso na época. “Quando inaugurei coloquei uma banda. Era tanta gente, mas tanta gente, que não dávamos conta de fazer lanches. Minha mãe e minha filha me ajudavam e meu marido dizendo que eu era louca”, conta aos risos. “Tudo que fazíamos era com amor. Até que um dia tivemos que alugar, porque já não dava mais conta de tudo”, completa. Ninha se casou aos 23 anos e foi morar em São Pedro, em Urussanga, mas continuava vindo para trabalhar na Minha Fluorita.

Com o passar dos anos as necessidades de mudanças foram surgindo e mais uma vez a veia empreendedora da empresária despontou. O armazém encerrou as atividades, mas o bar continuava aberto, e foi aí que a história com o mundo do vestuário dava os primeiros passos. “Quando o armazém fechou eu coloquei uma mesa de sinuca para continuar atender os clientes do bar, e num outro canto coloquei uma máquina de costura. Com os tecidos que a mãe guardava para fazer enxoval, comecei a fazer peças de roupa”, relembra Ninha.

Ainda na juventude, ela fez um curso de corte e costura na Escola Profissional Idalina Machado de Freitas e sob a supervisão da professora Elza fez sua primeira obra. “Nunca vou esquecer da primeira camisa que fiz. Era de xadrez”.

Trabalho e a viuvez

Não demorou muito e Ninha abriu uma loja de roupas e uma facção onde terceirizava o processo de confecção para marcas de outras cidades, a Confecções Zanevan. Ela lembra dos primeiros conjuntos infantis que vendeu, a primeira viagem a São Paulo, dos prazos de pagamentos que comprava a vista e vendia a prazos maiores para os clientes, entre muitos outros momentos. “O pai abriu uma conta no banco e me deu cheque. Eu tinha que me virar e tinha muito medo de ficar devendo. O dinheiro era tudo muito contado”, relata.

Já na fábrica, os clientes eram mais exigentes e desafiavam Ninha no comprometimento. “Foram noites traiçoeiras na época da facção. Eu me levantava de madrugada para resolver problemas com roupas com defeitos e tinha que arrumar para dar conta da entrega”.

Após 13 anos de casamento, Ninha sofreu uma grande perda, a morte do marido. Com dois filhos pequenos e duas empresas para administrar, ela arregaçou as mangas e foi à luta. “Ele foi sepultado numa segunda-feira e no dia seguinte eu fui para a fábrica. Chamei todos os colaboradores e falei, eu vou ver o que consigo fazer.  Comecei a cuidar de tudo, só que junto com isso começou a surgir dívidas que eu não sabia que existiam. Vendi minha casa e fui me desfazendo de outros bens. Precisei fechar a loja”.

Preocupada com as dívidas e com a integridade do seu nome, Ninha não hesitou em voltar a morar na casa dos pais. “Eu não queria ficar devendo para ninguém e fui pagando aos poucos. Morei no quarto junto com meus pais e com meus dois filhos”.

Desistir é uma palavra que não está no vocabulário dela, afinal, chegou até onde chegou, no suor de muito trabalho. “Não pensei em desistir, mas a única coisa que falei para o meu pai foi: se eu não der a volta, não pagar as contas e andar com a cabeça erguida, eu vou embora em busca de outro trabalho e você fica com meus filhos. Isso me marcou muito. Porque falar dos filhos sem o pai deles junto é complicado”, conta com olhos cheios de lágrimas.

E foi o próprio pai da Ninha, aquele que dizia que mulher não era para estudar, que viu crescer uma mulher guerreira e batalhadora. “Meu pai veio junto comigo. Aliás, ele sempre esteve do meu lado, até hoje. Ele, minha mãe e meus filhos”.

Calça jeans

Uma calça jeans tirou a confecção do vermelho e ajudou Ninha a se reerguer financeiramente. “Tínhamos um cliente de São Paulo que pagava calça jeans básica eles pagavam um preço de R$ 3 e eu consegui um cliente que pagava R$ 55 por peças diferenciadas. E foi onde começamos a investir nessas peças e fomos ganhando dinheiro. Era uma calça que dava dez vezes mais trabalho para criar. Trabalhamos muito, de madrugada até a tarde da noite, nos fins de semana, e todos os colaboradores e minha família pegaram junto comigo. Todos queriam sair daquela situação. Foi uma união”

A partir daí tudo começou a melhorar. Surgiu uma oportunidade de um curso do Empretec e com sua disposição para aprender, Ninha participou. “Logo que terminou o curso a primeira coisa que visualizei foi um terreno e uma fábrica maior”.

Entretanto, o terreno visualizado era de um dos moradores mais antigos da comunidade. “Era do seu Quintino Padoin. Todo mundo me chamou de louca. Viúva e cheia de dívidas, como que ele venderia para mim?! O pai mesmo duvidando da venda, me acompanhou na conversa. O não eu já tinha. E veio a surpresa, ele vendeu e ainda parcelou. Eu não tinha dinheiro para dar de entrada. Ninguém acreditou naquilo que tinha acontecido, nem eu para falar a verdade”, relembra sorrindo.

O começo da Roluza

Durante a construção da nova fábrica, a loja também retornou. “Reformei o espaço, comecei a viajar novamente, trouxe mercadorias diferentes no setor de cama, mesa e banho. Tudo começou a se encaminhar”.

Outro grande processo que acelerou o crescimento foi quando Ninha passou a contar com um novo sócio, Dimas Nazário. “Nós namorávamos e ele acabou vindo junto para somar. Fizemos uma promoção, uma queima de estoque na loja. Foi num final de semana, num espaço atrás da loja. Tudo com 50% de desconto e a vista. Não dávamos conta de vender. E isso foi indo todo fim de semana”.

Ninha conta que a procura foi enorme, pessoas de vários lugares iam comprar e foi aí que o Feirão Roluza começou. “Quanto mais trazíamos novidades, mais vendíamos. Até que começamos a abrir também durante a semana. As vendas eram só no dinheiro e no cartão. Não tinha fiado. E fomos crescendo cada vez mais”.

Ao olhar para trás e ver até onde chegou, Ninha não esconde o orgulho da sua história. “A gente só aprende o sentido das coisas na dor e nas lágrimas. Não é com dinheiro na conta sobrando, não é com carro, não é com uma casa. Só se aprende o valor das pessoas no sofrimento, na perda. Se não, tudo é um vazio, uma frieza das pessoas. Tudo o que eu passei valeu a pena. Agradeço a Deus todo dia”.

Questionada sobre qual o segredo de tudo, é enfática ao citar. “Não tem segredo, é trabalho, trabalho e trabalho. E pelo caminho que eu vim, eu sei que nada cai do céu”.

E essa mulher determinada que tanto batalhou e se mostrou confiante durante os percalços, sabendo administrar com sabedoria seus empreendimentos, inspirou outra mulher tão especial na sua vida, a sua filha. “A Iani cresceu praticamente dentro da fábrica e conheceu os processos de fabricação de roupa. Hoje ela tem a sua própria marca de roupa. Ela me puxou”, conta orgulhosa.

“Quando eu fiquei viúva e comecei a crescer, disseram que eu estava vendendo drogas. Ninguém percebe o caminho dolorido que passei. E é sempre assim, quando tu chegas no topo, todo mundo te enxerga. É quando tu apareceu. Então, é fácil falar”.

Hoje, ao lado do atual marido e sócio-proprietário da Roluza, Dimas Nazário, Ninha continua levando sua coragem. “O Dimas chegou para somar na minha vida, esteve junto comigo no início da Roluza e hoje temos uma equipe maravilhosa. Sei que para ter uma equipe motivada e engajada no negócio, precisamos dar o exemplo. O amor e a dedicação em cuidar de cada detalhe”.

Mensagem às mulheres

Nesta data dedicada as lutas femininas, Ninha deixa a sua mensagem. “É preciso acreditar, trabalhar e focar num objetivo. Quero desejar a todas as mulheres um feliz Dia da Mulher e que sigam firmes nos seus sonhos”.

“Não sei se sou referência, eu me sinto igual a todos aqui dentro da Roluza. Sempre fui mais reservada. A Roluza é mais que a Ninha. Todos que estão aqui dentro construindo essa história são mais referência que a própria Ninha”, completa.

Católica e Coordenadora da Mãe Peregrina, ela reza todos os dias o terço. E a solidariedade também faz parte do seu dia a dia. Sempre engajada em ações sociais que buscam arrecadar doações para amenizar o sofrimento das pessoas menos favorecidas. Apesar de todo o sucesso, ela ainda faz planos para o futuro. “Tenho muita vontade de voltar a estudar, sinto essa necessidade de aprender. Eu gosto de aprender, de compartilhar conhecimentos. E com meu apoio dos meus filhos já estamos vendo sobre isso”, finaliza.

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