Gabriela Recco
Neste Dia do Professor, 15 de outubro, a trajetória de Graziela de Oliveira, moradora do bairro Maccari, em Morro da Fumaça, é um exemplo de que os sonhos podem ser realizados a qualquer tempo. Aos 49 anos, mãe de cinco filhos e avó de três netos, ela trabalha como auxiliar de ensino no Centro Educacional Infantil Honorata Pavei Maccari, na turma do Maternal 2, e cursa a sétima fase de Pedagogia. Depois de enfrentar anos de dificuldades pessoais, Graziela vive hoje a realização de um sonho que nasceu ainda na infância, o de ser professora.
Desde criança, Graziela sempre foi apaixonada pelos estudos. “Sempre fui muito estudiosa, nunca repeti de ano. Venho de uma família feliz, com uma base muito forte. Meu pai até tinha problemas com o alcoolismo, mas sempre incentivou estudar e dizia que o estudo nos levaria para longe”, relembra.
Na adolescência, ela teve o primeiro contato com o magistério por meio da disciplina Preparação para o Trabalho (PPT), quando pôde auxiliar uma turma de alunos. “Ali percebi que era isso que eu queria pra minha vida, ser professora”, conta. Mas os planos precisaram ser adiados após o casamento e a chegada dos filhos.
O primeiro grande desafio
Casada e morando em Siderópolis, Graziela viu seu sonho de ser professora ficar distante. Com as dificuldades do casamento, ela decidiu voltar para Morro da Fumaça, buscando o apoio dos pais. Foi então que, ao procurar o Programa Fumacense de Ação Social (Profas) para matricular os filhos, surgiu uma oportunidade de trabalho.
“Comecei a trabalhar ali e conheci a dona Olga, que soube da minha história e me incentivou a voltar a estudar. Ela comprou material, uniforme e me motivou muito”, relembra. Animada, Graziela iniciou o magistério, mas precisou interromper os estudos novamente devido aos desafios familiares. “Eu tinha 19 anos, dois filhos pequenos e muitos medos. Trabalhava durante o dia e estudava a noite. Só que o casamento não estava fácil, ele saía a noite de casa e deixava os filhos sozinhos. Tive que desistir”, recorda.
Durante 16 anos, Graziela enfrentou situações de violência doméstica e dificuldades financeiras. Para sustentar os filhos, passou a trabalhar com faxinas. “Eu tinha medo e vergonha da vida que estava vivendo, e eu não tinha coragem de sair daquele casamento. Passei anos muito difíceis. Mas eu queria o melhor para meus filhos”, afirma.
Depois da separação, contou com o apoio de famílias para quem havia trabalhado e, mais tarde, do atual marido, Marco Aurélio, que a incentivou a recomeçar. Uma cirurgia nas mãos limitou o trabalho como diarista e reacendeu o desejo de retomar os estudos.
“Voltei a estudar no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e concluí o ensino médio. Eu dizia para os colegas e professores que ia continuar, que ia fazer faculdade e ser professora. Alguns riam de mim. Quando eu ia no desfile de 7 de setembro, eu pensava comigo: um dia eu vou estar ali no meio como professora”, conta.
Superação e fé nos estudos
Determinada, Graziela ingressou na faculdade de Pedagogia. O sonho, no entanto, foi novamente colocado à prova quando ela descobriu um câncer de colo de útero. Mesmo em tratamento, não desistiu dos estudos. “Tinha dias difíceis, mas eu sabia que meu sonho estava ali, pertinho de mim”, relembra.
Hoje, ela comemora a conquista de estar em sala de aula, trabalhando com o que sempre amou. “Eu amo estar com as crianças. Quando me abraçam, sinto uma alegria tão grande. É algo que tira qualquer tristeza. A pedagogia me deu a oportunidade de trabalhar com o que realmente amo”, comemora Graziela.
Uma inspiração no Dia do Professor
Com o apoio da família e o orgulho dos filhos, Graziela celebra não apenas o Dia do Professor, mas a concretização de um propósito de vida. “Quero mostrar a eles que, apesar de tudo o que passei, sou uma guerreira que chegou até aqui e estou feliz”.
Para ela, ser professora é mais do que uma profissão. “Em primeiro lugar, ser professora para mim é a realização de um sonho. É transformar vidas, acolher, aprender todos os dias com as crianças. Ser professor é transformar o mundo por meio da educação”, define.
“Nunca é tarde para recomeçar. Se você tem um sonho, disposição e saúde, vá em frente. O tempo vai passar de qualquer forma, então que ele passe te vendo tentar”, finalizou Graziela.
